Tu eras apenas um mero ser, que se sentia parado num mundo que se movia. Olhavas para a cima, no meio da noite, como sempre fazias. Os teus olhos, vazios, perseguiam o céu estrelado com todas as estrelas que te faziam sentir ainda mais invisivel, pela sua perfeição e brilho. Mas mesmo assim, continuavas a amá-las e a adorá-las porque não te importavas com a tua própria existência. Não tinhas nem um único simples sentimento por esta.
As estrelas, essas, continuariam sempre a brilhar, até mesmo aquelas que já não existiam mais. Tu? Tu continuarias nas sombras, dando importância a coisas fora do teu alcance. Apenas amando algo e doces nadas, que não te amavam no presente e que nunca te amariam no futuro. Punhas o teu coração partido a funcionar, apenas, para ver as estrelas. Ou então, para pensares como é que a Terra não se importava de não ter um amor como o do Sol e o da Lua. Distante, mas inquebrável.
Ele era mais do que um mero ser. Ele movia-se, fazendo companhia ao movimento do mundo. Olhava para cima, para o véu negro onde se espalhavam purpurinas douradas e prateadas, como era seu hábito. Os seus olhos, curiosos e repletos de tudo um pouco, abriam caminho para os pequenos pontos cintilantes que o faziam sentir amado, melhor e importante. Ele amava as estrelas porque estas estariam sempre lá, por vezes invisiveis, mas permaneceriam. Também porque faziam parte do que ele considerava a sua existência, algo com que ele se importava. Ele sentia-se maravilhado por existir, num mundo tão bonito como este.
As estrelas continuariam a brilhar. Umas mais e outras menos. Até aquelas que já não tinham uma "vida", o fariam. Ele? Ele brilharia também, de sua própria maneira. Radiando vida e alegria a tudo o seu redor, dando importância a cada detalhe que encontrasse, amando e acreditando que um dia o seu amor seria correspondido. Punha o seu coração quebrável a sentir, ainda mais, quando via as estrelas. Ou então, para pensar como a Terra conseguia ter um amor tão grande como o do Sol e da Lua. Porque a Terra, a cada noite, tinha todas as estrelas que amava e amavam-na de volta para si. Enquanto que o Sol e a Lua, só se encontravam raramente.
Caminhavam, ambos, de braços entrelaçados. Não ligando ao vento frio que vos tocava, ao de leve. Não dando valor aos pequenos barulhos próprios da escuridão do dia. Só queriam ficar com os pensamentos, opostos, que tinham. Completavam-se, de uma maneira que nem tu nem ele sabiam que era extraordinária. Talvez o viessem, um dia, a descobrir. Debaixo do mesmo céu, caminhando pelo mesmo lugar, um ao lado do outro. Eram opostos que se completavam, eram dois seres perfeitamente imperfeitos que unidos criavam algo maior que vocês. Eram duas estrelas próximas, mas distantes, que pareciam aproximar-se cada vez mais.
-Aurora-