Aquela pequena dor, sufocava-a. Não só pela garganta. Apertava-a, também, no coração e na mente. Talvez a dor não fosse tão pequena como pensava... No entanto, suportando tudo e todos, ia vivendo. Não reclamava, não a revelava, ficava tudo o que era seu guardado em si própria. Podia ouvir os outros, mas nunca conseguia quebrar totalmente as barreiras para falar de si. Por vezes, perguntava o porquê disso, mas nunca obtinha uma resposta. Talvez fosse o medo de ser magoada no final ou, então, ainda não ter encontrado a pessoa ideal para o fazer, o papel para o escrever, o vento ao qual o soprar... Não. Tinha permanecido calada, desde que tinha a consciência de poder falar e pensar.
Pensara muitas vezes em desistir de tudo. Em se tornar um fantasma, vagueando por todo o sítio, sempre invisível, intocável. Revoltava-se consigo mesma, tornando-se a sua pior inimiga. Rebaixava-se por completo. Julgava-se e condenava-se. Algumas vezes, ainda se revoltava, também, com os que a rodeavam, mas nunca tanto quanto o fazia consigo.
A pequena dor, alastrava. Agora corria-lhe nas veias, fazia parte de todo o seu corpo. Tomava conta do seus olhos, fazendo-os chorar, do seu sorriso, fazendo-o desparecer. E aos poucos, mesmo o seu corpo, parecia ir desvanecendo entre o resto do mundo.
Um dia decidiu fechar tudo e voltar a equilibrar-se. Toda a dor, agora, estava trancada numa pequena parte do seu coração e em várias páginas por ela escritas. Ela tinha, neste momento, a força para a manter trancada e não a deixar sair. Apercebera-se que o mundo ainda valia muito mais do que tudo o que ela podia sentir. Que aquilo que carregava em si, ia sempre existir, mas se se deixasse levar, iria cair no buraco negro que a sua mente criara. A força tinha-lhe sido dada por ter confiado a um pequeno caderno todos os seus sentimentos. Tinha-se soltado. Libertado. Vivia!
-Aurora